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Economia

Empreender além do lucro em Santo Antão: Pequenas empresas lideradas por mulheres apostam em causas sociais

Muito mais do que negócios ou lucro, algumas pequenas empresas lideradas por mulheres em Santo Antão destacam-se por defender ideias e causas e contribuir, através da responsabilidade social, para o desenvolvimento das comunidades onde estão inseridas. Do ambiente à educação, passando pelo empoderamento feminino e outras causas, muito além do lucro.

Em Janela, no município do Paul, encontramos a fábrica de produção de azulejos a partir da reciclagem do plástico. Uma iniciativa única em Cabo Verde e pioneira em África, promovida por Maria Teresa Segredo, desde 2017 na localidade.

Com oito funcionários, a pequena unidade fabril é um su- cesso no país e no exterior, não só pela qualidade dos azulejos, mas pela responsabilidade social e mensagem ecológica que transmite. A protecção do ambiente contra à poluição por plástico é a maior bandeira da fábrica.

“Achei uma ideia útil para o nosso meio ambiente, tendo em conta que a poluição pelo plástico tem sido um dos maiores problemas ambientais. A fábrica surge para dar o contributo na eliminação do plástico em Cabo Verde e melhorar o ambiente no país”, conta Maria Teresa Segredo ao A NAÇÃO.

Muito mais do que o lucro que a fábrica pode proporcionar, Segredo sente-se orgulhosa por es- tar, acima de tudo, a lutar contra as alterações climáticas causa- das pela poluição.

Redução do plástico

Graças ao projecto, Cabo Verde está com “menos plástico”, reconhece a mentora, que destaca iniciativas nacionais de empresas e particulares que têm recolhido o plástico e enviado para a fábrica em Santo Antão. “Até as crianças já levam plástico na fábrica, o que mostra que temos mobilizado e conscientizado as pessoas para o combate a poluição”, reconhece.

O sucesso da fábrica, não obstante a pandemia, e de sua responsabilidade social satisfazem Maria Segredo que ambiciona partilhar o projeto com outros países, nomeadamente os africanos.

Para já, a Holanda, país onde Maria reside, é o principal mercado dos azulejos produzidos no Paul. A fábrica tem capacidade para a produção de 27 mil azulejos por ano e já se pensa em alargar a produção e aumentar os postos de trabalho.

Além da causa ambiental, juntamente com a associação “Amigos do Paul na Holanda”, têm apoiado outras causas como a castração de cães e gatos e equipado lares, jardins e escolas com mobiliário, para além da atribuição de bolsas de estudo.

“Paradise Soap”

Aliás, a educação tem sido também a causa maior de outra fábrica na ilha. A fábrica de sabonetes naturais “Paradise Soap”, na Ribeira das Patas, Porto Novo, fundada em 2018 pela emigrante Inês Silva, coloca a educação e a saúde na lista de prioridades da sua atuação social.

Natural da Brava e emigrante nos EUA desde os cinco anos, Inês Silva escolheu Santo Antão para implementar a pequena fábrica de sabonetes naturais, não só pela disponibilidade de matéria-prima, mas também pela possibilidade de transporte e conexão com outras ilhas.

Já com três anos em actividade, a fábrica é um sucesso nacional e internacional. As variedades de sabonetes de alecrim, leite de cabra, lei de coco, enxofre, argila e outras, produzidos por seis funcionários, conquistaram o mercado nacional e países como EUA, Portugal e Alemanha, tendo vários países e marcas interessados na fórmula dos sabonetes da “Paradise Soap”.

Não obstante a pandemia, que reduziu a produção e condicionou o trabalho da fábrica, a “Paradise Soap” manteve-se firme e continua a produzir, a vender e a exercer, cada vez mais, a sua responsabilidade social.

Priorizar a educação

A fábrica apoia alunos sem condições, em Santo Antão e na Brava, com distribuição de mate- riais escolares, roupas e atribuição de bolsas de estudo para universidades nos EUA, além de cuidados com a saúde oral e distribuição de sabonetes nas escolas.

“A educação é muito importante. Ninguém nos consegue tirar a educação, morremos com ela. E são essas crianças que são o nosso futuro, apoiar a educação é apostar em Cabo Verde e no seu desenvolvimento”, enaltece Inês Silva.

Enquanto mulher, esta activista social sente-se orgulhosa da fábrica que construiu e dos projectos que apoia e aconselha a mulher cabo-verdiana a arriscar sempre e a não se limitar. A fábrica de Inês tem capacidade para produzir até 400 barras de sabonete por dia e já se pensa na produção de shampô em barra, como alternativa para acabar com o plástico.

Empoderar mulheres financeiramente

Já no Planalto Leste, 13 mulheres decidiram unir forças para combater a pobreza e empoderar financeiramente as mulheres e criaram a “Casa das Caldeiras”, um alojamento turístico e de transformação agroalimentar, promovido pela Associação das Mulheres do Planalto Leste (Amupal).

As potencialidades turísticas da localidade foram aproveitadas pelas mulheres deste planalto que viram na procura por

alojamento, a oportunidade de promover um turismo rural e de terraço e de vender os produtos transformados que produzem.

No entanto, o projecto não consegue rendimentos para as 13 mentoras, o que faz com que a gestão seja giratória, na aquisição de eventuais lucros. Apesar das dificuldades, seja de implementação ou de manter o projeto, a responsabilidade social de empoderar financeiramente as mulheres chefes de família é fiel.

Graças ao projecto, tem-se conseguido algum rendimento, e dinamizado a comunidade, a economia, gerado postos de trabalho e reter alguns jovens que ainda encontram-se na localidade. No entanto, a pandemia condicionou o projeto, muito dependente do turismo externo.

Com a retoma, a “Casa das Caldeiras” já recebe os primeiros turistas, sentimento de satisfação para as mulheres que veem a esperança renovada.

“Não tem sido fácil, desde elaborar, implementar e manter o projeto. Mas temos força de vontade, fé e garra. No entanto, já temos as ferramentas, agora é só trabalhar e obter algum lucro e apoiar a nossa comunidade”, ex- plica Josefa Sousa, uma das pro- motoras do projeto e presidente da Amupal.

Neste momento, o projecto, assim como as pessoas da localidade, enfrentam dificuldades de rede móvel o que tem condicionado o acesso a internet e às re- servas online, bem como o funcionamento de uma rádio na comunidade, promovida pelo projecto.

Apesar de eventuais dificuldades, as empresas abordadas por esta reportagem primam por uma responsabilidade social, por menor que seja, e aliar os possíveis lucros com o apoio de causas, mostrando a força de pequenas empresas e das mulheres no desenvolvimento do país.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 740, de 04 de Novembro de 2021

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