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São Vicente

Costurar para o Carnaval dá lucro

As costureiras que fazem os figurinos do Carnaval em São Vicente admitem ter lucros nesse trabalho, embora isso venha do cansaço e virar de noites. Tudo é compensado pela emoção que sentem, quando veêm as suas criações desfilarem pelas ruas do Mindelo. Há peças que ultrapassam 50 contos, mas nem todo esse dinheiro vai para os bolsos dessas “artistas”. Parte é para comprar o material.
Maria de Fátima “Tú” Gomes trabalha com a costura desde os 14 anos e já nesta altura o Carnaval esteve sempre presente. Começou como aprendiz de uma das costureiras mais antigas dos grupos em São Vicente, D. Milú Torres. Com a experiência adquirida, há 20 anos que cose por conta própria, e os figurinos carnavalescos ainda constam da lista dos suas habilidades. Muito embora Tú considere esse ofício “muito stressante”.
“Tudo poderia decorrer melhor se os trabalhos fossem programados a tempo, mas as pessoas deixam tudo para a última hora, e assim temos que virar a noite para conseguir entregar as encomendas no prazo”, explica.
Mas agora, Tú vê maior organização nestes últimos cinco anos, desde que passou faz as costuras exclusivamente para o Flores do Mindelo. Normalmente, opta por produzir os figurinos de uma ala só, que já é fixa, e de algumas das figuras de destaque. “Tento não exagerar na dose das encomendas para poder ter tempo de coser calmamente e fazer com qualidade e depois não correr o risco de ter um esgotamento e ficar o trabalho pelo caminho”, diz Tú que se dá por satisfeita por lucrar num mês mais de 50 contos.
Responsabilidade
A responsabilidade também é uma das marcas de Antónia “Tanha” Évora, que tem o Carnaval como um legado familiar, visto ser filha de D. Aida, costureira conhecida e referenciada em São Vicente.Assim, vestindo a camisola dessa arte carnavalesca e com respeito às pessoas que vão vestir as roupas, coloca a qualidade acima de tudo.
“As pessoas dizem que roupa para o Carnaval só precisa cortar e coser, mas eu respondo que, mesmo no Carnaval, não faço roupas descartáveis; a agulha e a linha não são minhas companheiras quando vou ver os desfiles”, sublinha.
A forma “séria” de trabalhar de Tanha reflecte nas encomendas. Neste ano, por exemplo, tem a seu cargo 60 figurinos de uma ala no grupo Vindos do Oriente, além do casal real,  80 do Samba Tropical e 53 do Recanto da Adinha. “O lucro advém da rapidez com que trabalho, porque não se pode perder um segundo. Mas pena é que as pessoas não colaboram quando devem vir para tirar as provas e deixam tudo para última da hora”, reclama.
Mesmo com cara mais de indústria, a  Dinamor Confecções depara-se com o problema do atraso dos clientes. Algo que a proprietária, Dina Moreira, tenta colmatar com viradas de noite, juntamente com os funcionários, cinco fixos e 10 como prestadores de serviço.
“No Carnaval os trabalhos duplicam; então, para cumprir os prazos, às vezes, trabalhamos até à meia-noite ou mesmo até às duas da madrugada. Eu mesma já cheguei a dormir apenas uma hora”, confessa Dina que, apesar da canseira, diz ser um trabalho que compensa financeiramente. “Dá para pagar aos meus funcionários e ficar com lucro”.
Como profissional que está nas costuras desde adolescente, já que a encontrou em casa através da mãe, Dina trabalha com sentido de responsabilidade. Até porque, apesar do volume de encomendas – 54 baianas, Porta-bandeira, Mestre-sala e rainha, todos do grupo Monte sossego e 45 pessoas de uma ala do Samba Tropical – espera ter tudo pronto até os finais desta semana. Assim como as outras colegas, Tú e Tanha.
Orgulho
Não obstante a compensação financeira, o que mais enche de orgulho a essas senhoras da agulha e linha é o momento em que as suas confecções chegam às ruas do Mindelo. “Eu evito até de ficar à frente quando vou ver os desfiles, porque, muitas vezes, as pessoas que faço os figurinos são clientes habituais e sempre gritam o meu nome e fazem uma vénia; aí não consigo controlar e choro”, conta Tanha.
Dina Moreira também sempre se emociona quando a sua arte se faz presente na avenida; fica especialmente radiante quando alguma das figuras de destaque que costura consegue algum prémio. Um troféu que sente ser para si também e para a sua equipa.

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