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Política

PAICV um percurso de 34 anos

Independência e reconstrução nacional, extroversão económica, abertura ao multipartidarismo, primeira oposição democrática e primeira formação política cabo-verdiana liderada por uma mulher marcam o percurso histórico do PAICV. Um partido que completou 34 anos de existência, na passada terça–feira, 20 de Janeiro, e que este fim de semana consagra Janira Hopffer Alma- da como sua presidente.
PAICV, partido herdeiro do PAIGC (este fundado por Amílcar Cabral, em Bissau), foi proclamado a 20 de Janeiro de 1981, na sequência do golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980, em Bissau, liderado por João Bernardo “Nino” Vieira. Um golpe que acaba por pôr fim a uma das maiores teses do PAIGC enquanto partido binacional: a unidade Guiné-Cabo Verde.
Além de “assumir” na altura  o legado  teórico  e histórico de Amílcar Cabral, o PAICV nasce  sob a liderança  bicéfala de Aristides Pereira e Pedro Pires (PP). Na linha da sua tradição em Cabo Verde, o “partido de Cabral”, entre outros desafios, teve de se ajustar aos no- vos tempos, adoptando, a 19 de Fevereiro 1990, a abertura política, pondo com isso fim a 15 anos de partido único. E, quase um ano depois, a 13 de Janeiro, agora sob o comando de Pedro Pires, o PAICV sai derrotado das primeiras eleições livres e pluralistas  do país, vencidas pelo MpD.
Ferido de morte, o PAICV passa à oposição, tendo por algum tempo Aristides Lima como secretário-geral e Pedro Pires como presidente (honorário). Será em 2001, agora sob a batuta  de José  Maria Neves ( JMN), que o PAICV regressará ao poder, um feito repetido em 2006 e em 2011.
LIDERANÇAS
O PAICV teve quatro líderes nacionais: o primeiro, Aristides Pereira – que, também, foi o primeiro Presidente da República de Cabo Verde (1975-91) –, o segundo, em dois momentos, foi Pedro Pires,  depois  Aristides Lima, de novo Pedro Pires, e finalmente José Maria Neves, para concluir agora com Janira Hopffer Almada. Nos seus vá- rios momentos, a disputa pelo comando do PAICV nem sempre foi fácil. Em 1997, quando JMN defrontou PP isso foi visto quase como um sacrilégio. JMN perdeu mas voltou à carga em 2000, tendo agora como adversário Felisberto Vieira, tido como mais próximo de Pedro Pires.
OS ALTOS & BAIXOS
O PAICV, como qualquer par- tido político de longa trajetória, teve os seus altos e baixos. Um desses momentos altos é a própria criação desse partido, a 20 de Janeiro de 1981, tirando com isso Cabo Verde do impasse com a Guiné-Bissau, na sequência do Golpe de Estado, perpetuado por “Nino” Vieira.
Igualmente, foram momentos edificantes a abertura política democrática, a aceitação da derrota eleitoral em 1991, a “resistência heróica” à hegemonia do MpD nos anos 90, o protagonismo da segunda alternância democrática em 2001, o recorde histórico de três mandatos legislativos consecutivos, a Agenda de Transformação, o reconhecimento internacional, especialmente, junto à Internacional Socialista.
Dos momentos baixos, naturalmente, a tensão latente entre a linha de Pedro Pires e a de José Maria Neves, o acentuar das divisões internas expressas durante as Presidenciais de 2011 e as denúncias, feitas nas últimas eleições de 2014 para líder do partido, gerando uma abstenção de mais de 50 por cento dos militantes, fora o ambiente de “arrivismo político” que se vem fazendo sentir, capaz de perigar a sua sobrevivência nas eleições de 2016.
O grande desafio do PAICVna presente fase da sua vida é, sem dúvida, garantir uma unidade interna, só possível num entendimento entre Janira Hopffer Almada e Felisberto Vieira, e uma coesão em convergência com os diversos actores internos do partido. É o momento mais periclitante da história do PAICV, em que se vai pôr à prova a maturidade política da líder eleita, Janira Hopffer Almada.
PERFIL DOS MILITANTES
Depois de uma longa traje-tória, com vários anos de poder legislativo e governativo, o PAICV dá sinais de exaustão. O desafio de novas teses e de novas práticas é neste momento evidente. A ala ganhadora das eleições, tendo à frente Janira Hopffer Almada, não conta com o apoio da maioria dos deputados do PAICV, que está com Felisberto Vieira, nem da maioria dos governantes, que pareceu alinhar com Cristina Fontes Lima.
Presentemente, são os próprios dirigentes que admitem “não saber com que militantes contamos”, uma vez que a definição do perfil “é um elemento muito complexo”.
Para suprir esta lacuna, de- fendem a criação de um Gabinete de Estudos Estratégicos, que, entre outras tarefas, procure conhecer quem é o militante do PAICV, proponha medidas de políticas e de antecipação aos fenómenos locais, regionais e globais, em ordem a liderar de forma científica e não de modo artesanal. O trauma de 1991, segundo os mais avisados, não deve ser esquecido.

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