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Opinião

Um olhar sobre as eleições internas do PAICV

Euclides Gibau
Na minha opinião, o esquema foi muito bem montado: o Sr. José Maria Neves, no sentido de fortalecer e manter as alas ou as bases dele, piscou o olho a uma das candidatas e apoiou indirectamente a outra. Ganhou quem soube pôr em prática as tácticas, as forças para não utilizar o termo máquinas, ou misseis mortíferas de que os apoiantes da Janira Hopffer Almada usaram para derrubar o Felisberto Vieira. A pirâmide de José Maria Neves assim foi construída.
A sondagem feita em Cabo Verde foi uma simples chamada de atenção para não dizer projecção antecipada da vitória da Janira. Segundo as sondagens da FORCV a Janira quase sempre esteve na frente em 1 ou 2 dias e Felisberto Vieira surgiu na frente para mais tarde ser ultrapassado de novo pela Janira.
A candidatura da Cristina Fontes, embora seja um quadro com uma boa qualificação, foi sem garra para ganhar, mas cumpriu uma missão importante que era auxiliar a Janira em caso de haver uma segunda volta no sentido de derrotar o Felisberto Vieira. Eu creio que José Maria Neves rezou para que não houvesse a segunda volta, assim conseguiu projectar a pirâmide dele com mais facilidade. Da maneira como a estratégia foi montada haverá poucas hipóteses de se levantar poeiras, mas os mais atentos podem ver que muitos apoiantes do Filu foram retirados dos cadernos. Em Santiago Sul, onde o Felisberto Vieira tinha mais força os militantes foram neutralizados com a distribuição de mantimentos “prendas de Natal”, fazendo aumentar abstenções que não beneficiou, de maneira nenhuma, o Felisberto Vieira.
Eu creio que o Júlio Correia foi convidado a desistir. Com a desistência de Júlio Correia, o Felisberto Vieira, embora tenha muita popularidade, ficou mais fraco. A Janira aproveitou a oportunidade para conquistar os Estados Unidos e a ilha do Fogo. Sendo assim, Felisberto Vieira tornou-se mais vulnerável à derrota que veio a acontecer no dia 14 de Dezembro.
Uma outra estratégia planeada e que antes das urnas serem encerradas, o jornal “A Semana” anunciou a Vitória da Janira em S. Vicente com maioria. Ora, este anúncio, de certa forma, influenciou muitos militantes indecisos na diáspora que ainda não tinham votado.
Felisberto Vieira – sendo um dos fundadores e até promotor do PAICV, e orgulhoso de ser “di Tchada” onde a vitória é bem-vinda e sempre festejada – não vê com bons olhos o PAICV a ser liderado por uma mulher que entrou no governo há 4 anos. Uma mulher que não tem nem um terço do trajecto e da experiência política que ele dispõe.
O José Maria Neves hoje se sente feliz porque a pirâmide dele já está construída. O grupo que ele chamou outrora de “ratos” já não tem muita força dentro da pirâmide dele. Só podem pintar o papel de “operário” dentro da pirâmide construída, ou seja, trabalhar e voltar a trabalhar para o partido. O Felisberto Vieira deixou por terra um sonho que ele tinha em mente e daqui para frente vai ser cada vez mais complicado concretizá-lo, que é ser líder do PAICV, o que ele tanto batalhou. O José Maria Neves mesmo estando fora do partido pode, a qualquer momento, influenciar as pedras da pirâmide que ele construiu.
Coloca-se as seguintes questões: Será que Felisberto Vieira, depois de analisar o caso em detalhes, vai ter a mesma motivação de continuar a batalhar e a acatar as ordens da Janira e de continuar a ser “operário”? Será que ele vai se demitir da posição dele no Parlamento para seguir a sua carreira profissional? Ou vamos ter outras surpresas? A ver vamos…

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