O Banco Central de Cabo Verde (BCV) desafiou hoje os bancos comerciais a concederem mais crédito à economia para o país poder ter um crescimento económico “razoável e aceitável”.
O repto foi lançado pelo Governador do BCV, João Serra, durante um encontro com os bancos comerciais de Cabo Verde, no qual alertou, porém, que se deve tentar combater o nível de crédito malparado, que ronda os 18%.
“Esta nova administração do BCV não está nada satisfeita com o nível de crédito à economia, que tem tido uma evolução praticamente residual nos últimos três anos (1%). Inclusive em 2014 teve um crescimento negativo (-0,5%) e estudos económicos confirmam que há uma correlação quase direta entre o nível de crédito concedido à economia e o crescimento económico”, salientou João Serra.
Durante o encontro com a banca cabo-verdiana, o novo Governador do BCV – tomou posse no dia 29 de dezembro de 2014 – disse que os bancos contam com um “excesso de liquidez”, mas não estão a conceder crédito, pelo que impunha a “reflexão conjunta” para se saber o que fazer para que haja mais crédito à economia cabo-verdiana.
“Naturalmente que temos de levar em conta o nível de malparado, que está com rácios que inspiram algum cuidado, mas julgo que há formas para fazermos com que haja mais crédito à economia e fazer o equilíbrio com o crédito malparado”, reforçou o também o ex-presidente do Conselho de Administração da Sociedade de Desenvolvimento Turístico Integrado das Ilhas de Boavista e Maio (SDTIBM).
Considerando que não há um rácio razoável de nível de crédito à economia, João Serra indicou que só na próxima sexta-feira o BCV vai anunciar “medidas não ortodoxas e não convencionais” em termos de política monetária, mas não indicou se uma dessas medidas será a redução das taxas de juros.
Em declaração aos jornalistas, o presidente da Caixa Económica de Cabo Verde (CECV), Emanuel Miranda, realçou a importância do encontro como o Conselho de Administração do BCV, mas alertou que a questão central tem ma ver com o desenvolvimento do setor privado.
“A nossa economia está numa fase de transição e o Estado terá de deixar de ter o papel que tem tido até agora e o setor privado terá que assumir o papel chave de motor de desenvolvimento económico e social do país. Os bancos têm um papel importante nesse processo porque o crescimento económico de Cabo Verde está muito correlacionado com o crédito à economia”, assegurou Emanuel Miranda.
Entendendo que se trata de um “desafio muito grande e complexo”, o presidente da CECV disse esperar pelas medidas que o BCV vai anunciar na próxima semana para “ajustar” as suas medidas como forma de estimular o crédito à economia.
Para Emanuel Miranda, outro desafio é a concessão de crédito ao setor produtivo, pelo que a banca a as autoridades públicas deverão começar a equacionar formas de apoiar o setor privado, na organização dos processos de crédito e na preparação dos projetos de financiamento.
“O que poderá ter um impacto enorme na política creditícia dos bancos, nomeadamente na definição das taxas ativas, é o custo dos fundos, o custo operacional e o prémio de risco, que são extremamente elevados em Cabo Verde, e a taxa de incumprimento é bastante elevada”, lamentou.
O presidente da CECV espera também que o BCV reduz as disponibilidades mínimas de caixa, para que os bancos possam rentabilizar os 18% de depósitos e provocar um “impacto positivo” na definição das taxas de juros.
Fonte: Lusa
BCV desafia bancos a concederem mais crédito à economia
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