Os mais 90 pescadores da comunidade de Tarrafal de Monte Trigo, Santo Antão, já têm gelo para conservar o pescado. Após uma espera de mais 12 anos, a unidade de gelo já funciona, graças a recursos provenientes da Fundação para a Cooperação Pesqueira no Ultramar do Japão (OFCF).
O início de funcionamento da unidade de produção constitui um marco histórico, no entender do presidente da Associação dos Pescadores do Tarrafal de Monte Trigo. Por isso, Izaires Pires aplaude a parceria entre a Câmara Municipal do Porto Novo (CMPN) e o Japão, que pôs de pé a infra-estrutura que tanta falta fazia àquela comunidade.
“Tarrafal é uma das zonas mais isoladas do Concelho do Porto Novo, onde mais de 90 pescadores, chefes de família, vivem essencialmente da pesca. Há mais de 12 anos, os pescadores deparam-se com o constrangimento na conservação do pescado, mas hoje, graças à iniciativa da Câmara Municipal junto com outros parceiros, como o Governo e a Cooperação Japonesa, temos, finalmente, uma unidade de produção de gelo com uma capacidade de, aproximadamente, 1000 quilos por dia”, realça o dirigente associativo.
Para pôr a unidade a funcionar, a CMPN, co-financiadora, e a OFCF fizeram a remodelação total do espaço físico, que já se encontrava bastante degradado, e a OFCF fez a instalação dos equipamentos. Ali foram instalados 64 painéis solares, com uma potência de 15 KW, um regulador de carga, três conversores de 4,6 KW cada, um gerador de emergência de 12,5 KVA e duas máquinas de gelo com capacidade para produzir 960 Kg de gelo em 24 horas.
Ou seja, concretiza-se a ideia de fornecer gelo para a conserva do pescado no Tarrafal de Monte Trigo, usando a energia do Sol que outrora servia apenas para secar o peixe, depois de salgado, naquele beira-mar.
Mas a Fundação Japonesa não fica apenas no Tarrafal de Monte Trigo. Neste momento está a financiar a Unidade de Transformação e Agregação de Valor ao Pescado (UTAV), na cidade do Porto Novo. A proposta passa por produzir hambúrguer, croquetes, salsicha, entre outros, a partir de cavala, gaiato e demais peixes de menor valor comercial.
A dita unidade vai funcionar no mercado de peixe entretanto construído há anos na zona de Abufador, mas que nunca chegou a funcionar. E grande parte dos equipamentos, financiados pela Direcção-Geral das Pescas, já está no Porto Novo, graças ao empenho da CMPN que os foi buscar na Cidade da Praia.
Espera-se com isso garantir emprego directo a cerca de uma dezena de pessoas. Mas o que mais entusiasma quem lida com a pesca na cidade do Porto Novo é facto de o projecto propor agregar valor ao pescado, fazendo aumentar os rendimentos das famílias.
O entusiasmo é de tal monta que o presidente da Associação dos Pescadores e Peixeiras do Porto Novo não poupa palavras na hora de caracterizar o projecto. “Surge como um dos factores importantes para a sustentabilidade das comunidades onde se pratica a pesca artesanal, na medida em que reflete uma visão empreendedora de valorização e aproveitamento do pescado; garantirá emprego para um grupo de Jovens; minimizará a deflação do preço do pescado e o desperdício nos momentos de elevada captura”, contabiliza Atlermiro Correia, para quem haverá margem de lucros maior para aos pescadores e armadores.
Além disso, Correia realça que os produtos que serão concebidos na unidade terão mercado garantido, nomeadamente bares, restaurantes, hotéis, minimercados. Mas o dirigente associativo alerta, desde logo, que a viabilidade económica da unidade passará pela garantia de matéria-prima ao longo ano, pelo que será preciso que haja uma embarcação semi-industrial para complementar aquilo que os pescadores artesanais trazem do mar.
O certo é que a comunidade ligada à pesca no Porto Novo só tem palavras elogiosas à OFCF, à Direcção Geral das Pescas e à Câmara Municipal do Porto Novo e espera que a Fundação Japonesa continue a financiar outros projectos que fortaleçam esse sector do qual muitas famílias retiram o seu ganha-pão.
Japão acaba com longa espera de Tarrafal de Monte Trigo
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