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Política

Paulo Veiga deixa entourage de Ulisses e reforça fileira veiguista no Parlamento

A saída de Paulo Veiga do Governo de Ulisses Correia e Silva pode abalar ainda mais a estrutura do MpD, que ficou muito fragilizada com a derrota de Carlo Veiga nas eleições presidenciais de 17 de Outubro. Por este caminho, é bem provável que haja, nos próximos dias, uma “tempestade organizada” no seio do partido. Uma convenção extraordinária e uma remodelação governamental ganham cada vez mais força.

Paulo Veiga vai regressar ao Parlamento e pode engrossar a fileira de deputados descontentes com a liderança do MpD e que vêm assumindo a postura de uma certa independência, pelo menos nas suas intervenções nos debates parlamentares.

A NAÇÃO sabe, no entanto, Paulo Veiga, primo de Carlos Veiga e director de campanha deste candidato presidencial, apresentou um pedido exoneração do cargo de ministro do Mar, na sequência dos maus resultados nesse pleito eleitoral.

Este pedido “irreversível” de Paulo Veiga foi aceite pelo primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, que agradeceu o mesmo durante o tempo em que liderou o Ministério da Economia Marítima e, mais tarde, o Ministério do Mar.

O nome do novo ministro do Mar será apresentado logo após a tomada de posse do presidente
eleito, José Maria Neves.

Consequência da derrota de Veiga nas presidenciais de 17 de Outubro
Conforme A NAÇÃO pôde apurar, o pedido de exoneração formulado pelo ministro do Mar é uma das consequências da derrota de Carlos Veiga nas eleições presidenciais de 17 de Outubro, porquanto, conforme o nosso interlocutor, “ficou o entendimento” de que o envolvimento de alguns membros do Governo a favor da candidatura de Veiga “ficou aquém do esperado”.

Mas, segundo a nossa fonte, o que mais terá pesado na decisão de Paulo Veiga foram as medidas e os anúncios feitos no decorrer da pré-campanha e até mesmo no decurso da campanha para as presidenciais. Cita como exemplo o aumento das tarifas de electricidade e água e o anúncio do aumento da taxa do IVA, o que para os veiguistas foi fatal para a
candidatura do seu apoiado.

“Houve também uma suspensão ou um congelamento das medidas que estavam em vigor, relacionadas com o Cadastro Social Único, como, por exemplo, o perdão de dívidas à Electra e o atraso no pagamento da pensão social”, realça.

Decisão irreversível
Numa nota de imprensa emitida na manhã de ontem, 03, Paulo Veiga confirma que solicitou ao chefe do Governo a sua exoneração do cargo de ministro do Mar. Como afirma, “a nobreza da política reside na assunção individual de responsabilidades a cada momento, em coerência com a minha consciência política, solicitei minha exoneração com a pretensão de tirar todas as consequências políticas e poder continuar a servir o meu país com a máxima dignidade e sentido de estado, enquanto deputado nacional, numa altura tão crítica da vida do País”.

“Este é o cargo para o qual fui eleito diretamente pelo povo e para o qual penso, continuo a ter
condições políticas para exercer até ao final do mandato”, acrescentou, realçando que “esta é uma decisão irreversível, que seguirá agora os trâmites formais”.

Nova roupagem e disputa da liderança do partido
Como fica claro na referida nota, o facto de sair do Governo não significa que Paulo Veiga vai
abandonar a política.

“Significa que assumirá uma nova roupagem”, realça um dirigente do MpD, sublinhando que, como deputado, o até então ministro do Mar sairá da entourage de Ulisses e engrossará, no Parlamento, a fileira dos veiguistas.

É de se prever que, com a sua saída do Governo, Paulo Veiga assumirá uma postura de alguma independência em relação à superestrutura do MpD, o que lhe deverá permitir uma estratégia que o conduzirá à disputa da liderança do partido, evitando, assim, a sua deriva para o lado dos antigos militantes do PCD, que já dão cartas na estrutura ventoinha.

“Paulo tem qualidades, tem muita empatia, tem uma certa independência e liberdade, e esses factores poderão ser determinantes numa eventual disputa para a liderança do MpD”, advoga o nosso interlocutor.

Nessa nova roupagem, Paulo Veiga contará, certamente, com o apoio dos também deputados Austelino Correia, Orlando Dias, Emanuel Barbosa, Isa Costa, Alberto Melo e Luís Carlos Silva que têm assumido uma postura crítica em relação à liderança do partido.

De recordar que Luís Carlos Silva assumiu publicamente que é contra o aumento do IVA de 15 para 17%, conforme consta da proposta de Orçamento do Estado para 2022. Por isso, caso nada for efeito para reduzir os ânimos, a votação desse instrumento poderá constituir um
momento de teste para a sobrevivência do Governo.

Tempestade organizada e “briga de galos”
Com este posicionamento de Paulo Veiga, o MpD vai entrar naquilo que Emanuel Barbosa chamou de “tempestade organizada”. Este deputado considerou numa das suas publicações na sua página do Facebook, que agendas individuais onde está inclusa a sucessão do UCS na liderança do MpD atropelaram o Veiga.

“Pois, muito precocemente esta questão foi colocada em cima da mesa no MpD, perdura até hoje e não vale a pena esconde-la. Porém, aqui importa dizer aos que perfilam nesta corrida, aos contendores, que parem e que tenham mais racionalidade porque esta briga de galos está a prejudicar enormemente o sistema MpD”, realçou.

Disse ainda que existem evidências que demonstram que a derrota do Veiga foi induzida.

“Esta derrota tem o significado de uma grande facada no desígnio do partido e nas costas dos
militantes do MpD”.

“O partido não pode tolerar mais situações desta natureza, pelo que ao Ulisses Correia e Silva, presidente do MpD, é exigido que seja líder e afaste do horizonte esta questão da sua sucessão
que tem polarizado o partido à volta de dois dos seus vice-presidentes”, enfatizou.

Este deputado considera ainda que “é preciso colocar um ponto final nesta dinâmica catastrófica para o MpD em que senhores feudais estão com base no poder que estão nas suas mãos, diga-se de passagem, que devia ser usado em prol dos cabo-verdianos, a construírem os seus feudos par interesses pessoais de nível partidário. Esperamos que assim seja antes que mais danos sejam causados”, finalizou.

Outras candidaturas do campo do MpD
A indução de outras candidaturas presidenciais, nomeadamente de Casimiro de Pina e Hélio Sanches, também foi vista como uma estratégia para desgastar a imagem de Carlos Veiga
durante a campanha para as presidenciais.

“As candidaturas de Casimiro de Pina e de Hélio Sanches, que saíram no seio do MpD, mas que
não tiveram impacto eleitoral, acabaram por credibilizar uma narrativa que Veiga é conflituoso
e que não une o partido”, afirma a nossa fonte que diz haver rumores que essas candidaturas terão sido estimuladas por alguns dirigentes do MpD.

“Hélio Sanches, durante o primeiro mandato, ganhou muito dinheiro. Dinheiro que lhe permitiu ter músculos para financiar uma candidatura à Presidência da República. Onde é que
Hélio Sanches ganhou dinheiro e quem permitiu que Hélio Sanches ganhasse tanto dinheiro?”,
interroga o nosso interlocutor que considera que a candidatura desse antigo deputado por Santiago Norte se enquadrou numa estratégia “clara” de desgastar a imagem de Carlos Veiga. E que no caso de Casimiro de Pina, este foi, até o anúncio da sua candidatura presidencial, conselheiro político do primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva.

Convenção extraordinária e remodelação governamental: Possibilidades cada vez mais fortes

Muito se tem falado nos últimos dias, na sequência da derrota presidencial de Carlos Veiga, da necessidade de uma convenção extraordinária do MpD.

A cúpula do partido está mais inclinada na realização de um conclave apenas para “mandar bocas”, ou “muro de lamentações”, mas alguns dirigentes e militantes consideram que a mesma deve ser electiva.

Desde logo, para clarificar a situação de Luís Filipe Tavares que terá perdido espaço no partido com a sua demissão dos cargos de ministro dos

Negócios Estrangeiros e de ministro da Defesa, na sequência do escândalo relacionado com
a sua ligação com a extrema-direita portuguesa.

Há quem defenda que Abraão Vicente deverá ser “promovido” para o cargo de vice-presidente do MpD, cargo ocupado, neste momento, por Tavares.

A nossa fonte considera, no entanto, que Ulisses Correia e Silva é “intocável” neste momento e, por isso, admite que uma convenção extraordinária electiva serviria apenas para resolver a questão de Luís Filipe Tavares.

“Ulisses não constitui nenhum problema para o partido. Neste momento, o maior problema é a disputa de protagonismo, no Governo, entre Olavo Correia e Fernando Elísio Freire”, alerta o nosso interlocutor que considera que a questão da sucessão do líder do MpD deve ser afastada, neste momento, para evitar uma certa polarização entre esses dois vice-presidentes do partido.

Bases querem remodelação governamental.

As bases do MpD vêm manifestando, em diversos meios, o seu descontentamento com o rumo do partido e com o desempenho do Governo liderado por Ulisses Correia e Silva. Pedem uma convenção extraordinária para clarificar algumas situações no interior do partido e uma remodelação governamental para imprimir dinâmica e eficiência na implementação do Programa do Governo.

Conforme um dirigente do MpD, os militantes pedem ministros “mais populares” e “amigos do povo” com provas dadas. Querem, igualmente, uma redução do elenco governamental de 28 para 15 ministros e, eventualmente, mais três secretários de Estado.

Dos actuais ministros só ficariam Olavo Correia, Fernando Elísio, Janine Lélis e Abraão Vicente. Curiosamente, os três vice-presidentes do MpD e um putativo vice-presidente. Defendem, por outro lado, a entrada Herménio Fernandes (presidente da Câmara de São Miguel), Júlio Lopes (presidente da Câmara do Sal), Miguel Monteiro (presidente da Bolsa de Valores), Mircéia Delgado (deputada) e Artur Correia (antigo director nacional da Saúde).

Intimidação
Por outro lado, o antigo deputado para o círculo das Américas, Cândido Rodrigues, dos primeiros a defender a candidatura presidencial de Carlos Veiga, denuncia clima de intimidação no MpD e pede convenção extraordinária urgente.

Também este militante acusa Ulisses Correia e Silva de ser o mentor da estratégia para “tramar” Carlos Veiga nas eleições presidenciais. Denúncia, igualmente, um clima de crispação interna e pede uma convenção extraordinária.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 740, de 04 de Novembro de 2021

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